terça-feira, 23 de março de 2010

Concurso público...

Galéra, o IBGE prorrogou as inscrições para recenseadores para o censo 2010. O valor da inscrição é de R$18,00. O contrato é provisório de quatro meses, e a grana gira em torno de R$800,00. Por isso, se você está na mesma correria que eu aproveite!

Mais informações: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1573&id_pagina=1

Inscrições para o trampo aqui

Boa sorte nessa caminhada, literalmente!

domingo, 21 de março de 2010

O movimento estudantil...

Por muito tempo o movimento estudantil foi sinônimo de entusiasmo pela transformação do mundo à sua volta, graças às inúmeras pessoas que lutaram ao longo do tempo, e principalmente no período militar, para que os estudantes tivessem melhores condições de estudo e liberdade de expressão e acima de tudo era uma luta ideológica. Os adversários se faziam visíveis. De lá para cá, muita coisa mudou. Antes os ritmos eram mais lentos, hoje somos forçados a ser ágeis; as informações eram mais precisas e mais cheias de significações, agora são agressivas e descartáveis. Mas deixando o saudosismo pífio de lado, olhamos para o nosso contexto UEM (Universidade Estadual de Maringá - PR).
O movimento estudantil passa por um momento frágil, necessitado de significações, mas cheio de objetivações próprias. Uma delas foi o protesto dos estudantes na vinda do governador, onde os mesmos reenvindicavam melhorias para o restaurante universitário e melhores condições financeiras para os estudantes de baixa renda, quando foram recebidos com ironia e descaso do governador Requião, que "disponibilizou" seu chefe francês para auxiliar no restaurante que se encontra precário de funcionários, e uma estrutura física que não suporta o número de estudantes que o frequentam. A outra aconteceu recentemente, na quinta-feira (11/03) para ser mais exato. Para fechar a Calourada 2010 o Bonde-do-Amor contratou a banda gaúcha Cachorro Grande, e a expectativa de uma boa festa era certa. Porém, a polícia ,alegando faltar um documento da "força verde" (salve Jáh!), proibiu a realização da festa. Nós, estudantes, ficamos revoltados pela situação, já que feriu nosso ato de "liberdade" (?) de poder realizar a festa. No outro dia a agitação tomava conta dos agentes estudantis, o que culminou em uma reunião para exigir esclarecimento do reitor Décio Esperândio sobre a situação, pois segundo representantes do DCE os alvarás estavam todos de acordo. Com isso os ânimos subiram. A reunião, que era para pedir esclarecimentos, se tornou símbolo de luta pelo novo movimento estudantil; os estudantes aguardavam furiosamente para querer invadir a reitoria. É evidente que o motivo é banal, pois alguns querem brigar para festar, e como movimentação para uma intervenção na realidade abrangente está muito longe de acontecer; o descaso continua. A associação de moradores da zona 7 viu no Estado sua forma de legitimar o sentimento xenofóbico que se passa. Claro que o DCE irá contestar isso, alegando "dialogar" com as partes. Baléla! O que se vê é um acovardamento por parte dos representantes dos estudantes, já que eles não podem criar "problemas" com a reitoria e com a Associação, pois existem instâncias politicas maiores envolvidas no conflito.
Muito mais do que uma festa ou um protesto com faixas na boca, o que os estudantes querem é serem ouvidos e terem voz. Olhamos para o caso da paridade, os estudantes junto com os funcionários quase nem existem como força no jogo, já que os conflitos políticos são neutralizados, ocasionando a exclusão dos estudantes e funcionários enquanto entidades efetivamente representativas. A casa do estudante, que era promessa da atual gestão, ainda não iniciou as construções, o que, com certeza, vai ser outra promessa do vice que pretenderá a reitor.
Se olharmos à nossa volta, veremos um movimento estudantil que passa por uma carência de identidade histórica, identidade essa que é o reflexo da nossa atual universidade e sociedade. As exigências desse movimento estudantil são consideradas primárias e superficiais para alguns, e de alguma forma o são de fato, mas são as exigências dos estudantes, são suas vozes e suas bandeiras. Os estudantes querem ser respeitados e participar desses embates que se dizem ser instâncias superiores, pois eles fazem parte da estrutura social de Maringá, e ajudam a manter tambem várias imobiliárias que mais parecem verdadeiras "ratazanas" esperando a carne Estudante chegar.
Não podemos esquecer que essa entidade chamada Universidade traz consigo as contradições desse movimento estudantil débil. Os estudantes ainda brigam pelo imediato, e sem perceber a complexidade do todo permanece a quere-lo, mas aqui formam também indivíduos responsáveis com a transformação da Humanidade e, com essa finalidade, estão construindo o "novo" movimento estudantil e que vai além dos portões da universidade.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Cimena...

Quando assisto a um filme, que diga-se de passagem é classico, fico estupefato pela genialidade de expressar a realidade de forma poética, e é claro, de forma emancipatória. Eles não usam black-tie é um desses. Também, com um elenco de "arrepiar" os cabelos, composto por Gianfrancesco Guarnieri, Fernanda Montenegro, Bete mendes, Carlos Alberto Ricceli e Milton Gonçalves formam essas epopéia moderna.
É um filme baseado na fantástica peça de Gianfrancesco Guarnieri, que mostra o duro drama de uma familía de operários no grande ABC em São Paulo. Em resumo, o filme é uma retratação do conflito dos operários com a ditadura militar e suas políticas de "aroxo" salarial.
O que me chamou mais a atenção no filme é o cenário que o diretor Leon Hirszman usou para rodar o longa, onde passa-se em uma favela paulista, que no inicio dos anos 70, consolidou-se em São Bernardo do Campo-SP para disponibilizar mão-de-obra as indústrias que ali se instalaram. O enredo do filme é composto pelo conflito familiar gerado por uma greve no fim da década de 70; o presidente do sindicato dos metalúrgicos do ABC (Luiz Inácio Lula da Silva) decreta a greve geral, desesperada e sem a conscientização da categoria.
Vamos ao filme:
O pai, Otávio (Gianfrancesco Guarnieri) é um operário, idealista, socialista e convicto de sua situação como trabalhador explorado. Forte e corajoso entre os seus companheiros, experimentou várias lideranças dentro do sindicato, no que resultaram em algumas prisões, com isso ganha destaque entre os seus transformando-se num dos cabeças do movimento grevista. O filho, Tião (Carlos Alberto Ricceli) por motivos de sua namorada estar grávida e não perder o trabalho decide não acatar a greve liderada por seu pai, e ainda deleta os companheiros que a estão liderando, ocasionando a demissão dos mesmos. Para Tião, a greve é algo utópico, já que, quando criança viu seu pai ser preso e não obter resultados imediatos. Maria (Bete mendes) operária e idealista passa para o movimento grevista e é agredida pelos políciais, correndo o risco de perder o filho. Nesse contexto o filme chama a atenção por sua originalidade em retratar os fatos históricos dos operários, recuados e sem direcionamento, mais de 3 mil trabalhadores esperando uma solução perante à real situação da política industrial brasileira.
Eles não usam black-tie é um filme político e social, sempre atual no qual Gianfracesco Guarnieri criou de um lado, personagens marcantes e populares como Terezinha, Chiquinho, Dalvinha e Jesuíno que nos revelam um mundo alegre, descontraído e aparentemente feliz. Já por outro lado o filme se apresenta forte e densa revelando de maneira real os conflitos que atormentam personagens como Otávio, Romana, Tião, Maria e Bráulio. São tais encontros e são esses momentos alegres e comoventes , que nos provocam o riso e a dor, alegria e tristeza. Assim, se por um lado mostra um olhar profundo dentro da sociedade brasileira, por outro esse olhar vem embalado por um valor poético materializado na concepção socialista de mundos. Com certeza esse é um brilhante longa, que nos proporciona um pensar sobre nossa realidade.

Como o blog presa por um "despertar" da catarse, tá ai o torrent para baixar, então divirta-se, e se possível comente.

Bom filme!

segunda-feira, 15 de março de 2010

Palestra...

O departamento de Ciências Sociais da UEM convida a todos para Aula Inaugural do curso que acontecerá dia 18 março. Nesse ano o convidado será o prof. Ruy Braga da USP. O cara é o "tal" do momento na Sociologia; sua foto do Lattes é engraçada!
Para aqueles que gostam de certificar a autenticidade de suas palavras na palestra tá ai o Lattes do homem!




Segundo o comodis (comodoro) o cara é o intelectual do momento. Eu já li uma tese dele sobre trabalhadores em call center, confesso ter gostado!
Vamos prestigiar, já que não é sempre que o Departamento traz alguém desse "porte".

Fonte: http://www.uem.br/index.php?option=com_content&task=view&id=808

segunda-feira, 8 de março de 2010

Mulher...

"Os que lutam!
Há aqueles que lutam um dia; e por isso são bons;
Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda;
Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis."

Bertold Brecht.

Parabéns Mulher!

sábado, 6 de março de 2010

Os Clássicos...



Homenagem da república Faca-do-Feijão, e provávelmente a Nicole de Sociais!!!

Para não ficar somente nas palavras, ta ai "Um concerto a palo seco ( via torrent), apreciem!

sexta-feira, 5 de março de 2010

Romance marginal

"Quarto de despejo, diário de uma favelada"
por Alex Willian Leite*

A autora:
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento, interior de Minas Gerais, em 14 de março de 1914. Estudou até o segundo ano primário. Migrou para São Paulo em 1947, indo morar na extinta favela do Canindé, na zona norte, onde hoje é a marginal do rio Tietê.
Em 1960, o jornalista Audálio Dantas, ao visitar a favela do Canindé para escrever uma matéria sobre a expansão do local, conhece Carolina, e descobre que por traz de uma senhora, negra e podre, existia uma mulher sensível, inteligente e audaciosa. Nasce o celebre “Quarto de despejo”, que narra a dura realidade de um pequeno espaço geográfico, mas que reflete à base da vida moderna capitalista.
Diante de uma lógica desumana a sociedade caminha à passos largos rumo ao “quarto de despejo”. As transformações cercam e embelezam a cidade, que está gritante com seus carros e agitos. Os “pássaros” cresceram, e até carregam gente. As “árvores” tornaram-se de concreto. A estrada agora esquenta em um chão escuro e ofuscado. O homem não sente mais o bater do seu coração. Estamos no mundo moderno!
O concomitante grito de socorro de uma mulher, que sempre anseia em trocar as taboas de sua casa por tijolos. Carolina morava na favela do Canindé, na rua A, barraco n° 9, seu “quarto de despejo”. Ela deixou de ser o futuro da nação, para se tornar um problema social. A engrenagem desse sistema transformou Carolina em uma peça, já lubrificada pela dor da desigualdade social promovida pelo sistema de classes.
Haveria, segundo a concepção marxista, a constituição da história é uma permanente dialética das forças entre poderosos e fracos, opressores e oprimidos; a história da humanidade seria constituída por uma permanente luta de classes. Classes essas que, para Engels, são produtos das relações econômicas de sua época. Assim apesar das diversidades aparentes, escravidão, servidão e capitalismo, seriam essencialmente etapas sucessivas de um processo único. A base da sociedade moderna é a econômica. Sobre esta base econômica se ergue uma superestrutura. Mas essa é uma outra discução para um outro momento.
As margens desse sistema, existe uma sociedade marginalizada e oprimida, sem oportunidades de ganhos e herdeira de um racionalismo, nos moldes weberiano, o “dever ser” da funcionalidade do capitalismo. Marx se tornou um pioneiro ao articular uma emancipação humana do “Quarto de Despejo" que o capital cria, e sintetizou a luta de interesses antagônicos das classes de diferentes lógicas de vida. Para Marx, o êxito do protagonismo revolucionário do proletariado dependia, em larga medida, do conhecimento rigoroso da realidade social. Ele considerava que a ação revolucionaria seria tanto mais eficaz quanto mais estivesse fundada, não em concepções utópicas, mas numa teoria social que reproduzisse idealmente o movimento real objetivo da sociedade capitalista. Tal realidade travava em vários interesses, um deles é o submundo da miséria, que a classe dominante procura manter. Carolina não enfeitava a cidade, muito pelo contrário, sua pele negra reluzia à pobreza e desprezo, que a burguesia não se importava em ver. Sua função no sistema se caracterizava em recolher papeis nas ruas fétidas de São Paulo. Reciclava até mesmo carne podre que os animais desprezavam, mas para ela se tornava na mais suculenta e saborosa refeição, que a “desigualdade social de cada dia nos dai hoje”. Carolina, o peso morto do Estado.
Contexto histórico da obra
O livro “Quarto de despejo, diário de uma favelada” de Carolina Maria de Jesus se passa na década de 50. Uma década de deslumbramento ocasionado pela “modernização” e industrialização do Brasil. Segundo Fernando Novais, “na década de 50, alguns imaginavam até que estaríamos assistindo ao nascimento de uma nova civilização nos trópicos, que combinava a incorporação das conquistas materiais do capitalismo com a persistência dos traços de caráter que nos singularizavam como povo: cordialidade, a criatividade, a tolerância.” “(...)” “A visão de progresso vai assumindo a nova forma de uma crença na modernização, isto é, de nosso acesso iminente ao Primeiro Mundo.” Essa euforia da modernização caracterizou o “anos dourados”, o país passou a produzir “quase tudo”. Os eletrodomésticos passavam a fazer parte da vida cotidiana da classe média, a indústria automobilística se tornou o símbolo dessa “modernidade”. Porem, essas engenhosidades da vida moderna mascarava outra realidade, a desigualdade social.
A modernidade brasileira parte do otimismo para a desilusão, o empreendimento do capitalismo se concretizou nos seu mais peculiar viés. Os produtos passaram a satisfazer não mais as necessidades básicas, mas as necessidades dos anseios do mundo moderno. A burguesia brasileira, com suas amarras voltadas para o capital estrangeiro, renunciava a qualquer pretensão de fornecer as bases para a compreensão do conjunto da vida social e recusava a promover uma política social capaz de reparar os erros do individualismo financeiro. As conseqüências dessa “modernidade” foi a forte concentração de riquezas nas mão de ínfimas pessoas; desencadeou uma estagnação financeira, que nos anos 80 ficariam mais visíveis. A grande conurbação que sofreu as cidades brasileiras, devido acima de tudo ao êxodo rural, ocasionou na favelização das grandes cidades. No cenário político, que por sinal Carolina sita várias vezes essa conjuntura, se encontrava com instabilidade. Tudo era incerto, depois do suicídio de Vargas o Brasil tornou-se um barril de pólvora, que logo, explodiu desembocando na ditadura militar em 64.
Nesse breve contexto histórico nos fez situar como vivia o cenário de Carolina. A modernidade para ela ficou somente no plano das idéias, mas a desigualdade era materializado. A favela do Canindé foi uma das conseqüências da estagnação econômica que o capitalismo “selvagem” trouxe para os grandes centros, e a falta de estrutura urbana multiplicou vários “quartos de despejos” pelo Brasil afora.
“O quarto de despejo”
Não irei debulhar a obra de Carolina para escrever aqui todos seus pontos que remetem a lutas de classes, e conseqüentemente à desigualdade, pois em síntese, ela já expressa esse enredo pela obra completa; o intuito é compará-la com a própria realidade dos fatos, e analisá-la em um contexto marxista, sintetizando a luta de classe.
Ao ler seu brilhantíssimo trabalho, não pude deixar de me emocionar com sua simplicidade de escrita, sua sensibilidade intelectual de interpretar a realidade e transferi-la para o papel, e acima de tudo sua luta em sobreviver diante de um “darwinismo social”, uma “seleção” coercitiva que impera nesse sistema, e transfere toda responsabilidade de “vencer” para o individuo.
Logo nos primeiros capítulos pude verificar o cotidiano de uma favela, as idas e vindas para buscar água, seu diálogo com seus vizinhos e sua rotina de trabalho como catadora-de-papel. Carolina expressa um sentimento individualizador que existe dentro de Canindé. ‘A única coisa que não existe na favela é solidariedade” (pág. 13) “E pensei na eficiência da língua humana para transmitir uma noticia.” (pág. 22) “Oh! Se eu pudesse mudar daqui para um núcleo mais decente. ”(pag.10) Os conflitos entre os moradores são constante e desestabilizador, devido, ao que parece, pela insensibilidade e concorrência de sobreviver que assolava as favelas. Esse sentimento racional individualizado brota no seio do mundo capitalista, pois agora o individuo não mais depende do outro para manter sua espécie, ele tem que manter sua vida em constante interesses isolados. “O Individualismo é uma expressão recente.” “(...)” “é um sentimento refletido e pacifico, que dispõem cada cidadão a isolar-se da massa de seus semelhantes e a retirar-se para um lado com sua família.” “(...)” “O individualismo é de origem democrática e ameaça a desenvolver-se.” (Tocqueville, pág. 386) Alexis de Tocqueville, ao escrever a “A democracia na América” traçava os perigo dessa forma de democracia, que alias foi acoplado pelo sistema capitalista e transmite esse sentimento competitivo. Na favela do Canindé esse isolamento fica claro, as constantes intrigas e o sentimento de não se identificar com os vizinhos mostra a real lógica individualizada que Carolina se deparava. Segundo Braverman: “É somente na era do monopólio que o modo capitalista de produção recebe a totalidade do individuo, da família e das necessidades sociais e, ao subordiná-lo ao mercado, também os remodela para servirem às necessidades do capital.” (Cap. 13, pág. 231)
Tal remodelagem desemboca na luta de classes por interesses antagônicos, desencadeando uma consciência que entrará em conflito, ou seja, “sua expressão relativa à curto prazo é um complexo dinâmico de estados de espírito e sentimentos afetados pelas circunstancia e cambiantes com eles, às vezes, em períodos de depressão e conflito, quase de dia a dia.” (Idem, pág. 36) Esses trechos demonstram as características fundamentais que o capitalismo provoca na humanidade. Carolina, por diversas passagens clarifica os conflitos sociais existentes na sociedade capitalista. “Mas, são obrigadas a pedir esmolas. São sustentadas por associações de caridade.” (Pág. 14) “Suporto as contingências da vida resoluta. Eu não consegui armazenar para viver, resolvi armazenar paciência.” (Pág. 15) “ – Cato papel. Estou provando como vivo!” (Pág. 17) “E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual – a fome!” (Pág. 27) “Condói-me ver tantas agruras reservadas aos proletários” (Pág. 41) “O que eu revolto é contra a ganância dos homens que espremem uns aos outros como se espremesse uma laranja.”(pág. 41) Esses poucos fragmentos do livro, que, alias são muitos, fortalece os conflitos de classes na sociedade.
Carolina expressa uma consciência de classe tenaz e dialética, seu sentimento e necessidade de mudança constantemente bate à porta, pedindo reação de uma classe humilhada e jogada na periferia do capitalismo. Seu testemunho remete a analisar-nos essa forma de organização, essa “proeza” da vida moderna, a desenfreada obtenção de lucros sem pensar nas conseqüências.
Em resumo, o “Quarto de Despejo” mostra a dura realidade de uma nova barbárie desse sistema opressor, representada pela continuidade do capitalismo. As garantias de trabalho são reduzidas ou eliminadas. Formas de exploração do trabalho que pareciam eliminadas nas historicidades dos fatos reluzem novamente, como trabalho semi-escravo, o exemplo claro foi aqui explicitado na obra de Carolina no trabalho de catadora-de-papel. Nos porões da globalização estabelece moradia para os chamados “subdesenvolvimento”, os “quartos de despejo”, estão cada vez mais se multiplicando pelo mundo, sobrando vaga sempre para as classes menos favorecidas da sociedade. “Com efeito, a organização social fundada no modo de produção capitalista – a sociedade burguesa – já explicitou, ao cabo de sua existência mais que secular, o pleno esgotamento das potencialidades progressistas.” (Neto, Pág. 243. 2007)
Essas contradições que desembocam na luta de classe, teorizada por Marx, irá desestabilizar essa forma de organização, não se constitui por um determinismo histórico, mas sim por escolhas conscientes operadas por homens que direcionam a sua ação política no marco complexo das lutas de classes.
Nas palavras da própria Carolina:

- “Não, meu filho. A democracia está perdendo os seus adeptos. No nosso paiz (país) tudo está enfraquecendo. O dinheiro é fraco. A democracia é fraca e os políticos fraquíssimos. E tudo está fraco, morre um dia.” (Pág. 35)
O ponto de partida dessa caminhada é a eliminação dos privilégios aberrantes que bloqueiam o acesso do conjunto da população à vida econômica e política. Na prática, isso significa transformar a luta por terra, trabalho e teto no eixo de articulação de um novo projeto para o mundo. "Mas o povo não deve cançar (cansar) . Não deve chorar. Deve lutar para melhorar o Brasil para nossos filhos não sofrer o que estamos sofrendo.” (Pág. 48)

Nota
Este trabalho respeitou fielmente a linguagem da autora que muitas vezes contrarias a gramáticas, mas que por isso mesmo traduz com realismo a forma de o povo enxergar e expressar seu mundo.
Bibliografia
Jesus, Carolina Maria
Quarto de Despejo diário de uma favelada / Carolina Maria de Jesus – 1.ed. – São Paulo: Ática S. A., 1994
Netto, José Paulo
Economia Política: uma introdução critica / José Paulo Netto e Marcelo Braz. – 3.ed. – São Paulo: Cortez, 2007. – (Biblioteca básica de serviço social; v. 1)
Bravermam, Harry
Trabalho e Capital Monopolizado: A degradação do trabalho no século XX – 1.ed. –
Trad. Nathanael C. Caixeiro. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1977.
Tocqueville, Alexis
A Democracia na América. Trad. Neil Ribeiro da Silva – 3.ed. – Editora Itatiaia Limitada. Editora da universidade de São Paulo. São Paulo, 1987.