terça-feira, 16 de novembro de 2010

O Verbo



O Verbo

a carne se fez verbo
depois fez-se o verso
e o poeta viu que tudo era feio
e fez-se a poesia.

O ar seco do cerrado,
o sol sereno do inverno,
o povo e o pó da periferia
confundiam-se numa nuvem de miséria
que pairava entre o céu e a terra
da zona norte que sofria.
Como numa inversão térmica
nossa república mensaleira
inverte os valores, sufoca a cidadania.

O analfabetismo.
O desemprego.
A infância desassistida.
A fome em fim já tem cor, quem diria?
Nossa esperança outrora descolorida
hoje é verde e amarela, a cor da falsa alegria.
E ai já não era mais a carne,
mas a pele
os ossos
que vibravam e retorciam se fizeram verbo.
Verbo na primeira pessoa do singular: eu sofro.

Tu sofres.
Ele sofre.

Lazaro Carneiro.

http://www.lazarocarneiro.blogspot.com/